Decifrando os Indicadores: “seu GPS para o momento atual da economia global” (EUA e Europa)
Aviso: o artigo de hoje contém bastante gráfico. Se você não gosta de ver “imagens fortes” este artigo não é para você!
Brincadeiras a parte, o objetivo principal é mostrar alguns dados iniciais que acabaram de “sair do forno” (e não opinar a respeito dos próximos movimentos). O objetivo secundário é tentar “conectar os pontos” da economia global. Vamos lá?
1) Economia americana: a forte expansão que dominou os últimos anos e se tornou a maior expansão da história pode terminar, desemprego estava na mínima, crescimento de salários na máxima…o que aconteceu nos últimos dias? Para responder a esta pergunta, precisamos fazer outras perguntas antes…
-> Quais indústrias representam o mercado de trabalho? (vamos deixar o governo de fora desta)
Utilizando os dados mais recentes do BLS (fev 2020) essa é a tabela atual:
-> Que tal a estimativa mais recente do Labor Dept. americano a respeito do “risco de perda de emprego devido ao coronavirus”?
Veja que hospitalidade e lazer (uma das áreas que mais empregaram na expansão atual) chegam nos 16%-17% com “alto risco”, isso significa que - em média (dentro da projeção) - um a cada cinco/seis pessoas que trabalham em hotéis, por exemplo, perderão o emprego em breve. O setor de saúde (healthcare) também está na mira, junto com professional business services, o qual bate os 17.5% na projeção (com “baixo risco”), o “super setor” inclui diversos pequenos negócios como arquitetos, engenheiros, contadores, parecido aos profissionais liberais.
Professional services (descrição oficial aqui) inclui muitas empresas familiares, você pode seguir os pedidos de falência mensalmente aqui. O maior empregador da América é o Small Business e para quem busca acessar mais informações a melhor plataforma é o site do NFIB “The Voice of Small Business”.
-> E se fosse possível analisarmos uma pesquisa recente do WSJ feita aos donos de Small Business a respeito de “quanto tempo seu negócio aguenta sem receita”?
A maioria respondeu que entre um e três meses é possível de sobreviver, ao passo que 1/5 afirma não ter capacidade de segurar o mês. Isso significa que muitos pequenos negócios precisarão cortar custos. Para ilustrar as expectativas do mercado de trabalho com mais detalhamento, compartilho a expectativa do Economic Policy Institute divulgada no WSJ a respeito da taxa de desemprego estimada: (a imagem é forte)
Partindo para a próxima discussão:
-> Como funciona o PIB Americano?
Aproximadamente 2/3 dos quase 20 trilhões de dólares está no consumo, 1/6 nos investimentos.
Comentários
Perda de emprego em áreas que contribuíram para o crescimento econômico recente, somado a dificuldades para os Small Business implica em queda de consumo. Se adicionarmos o “fator psicológico” por traz da mente do consumidor, medido através do Michigan Consumer Sentiment, então não precisamos de muito esforço para concluir que o PIB será drasticamente afetado no segundo trimestre de 2020 e que os resultados para a maioria das empresas na bolsa serão “terríveis”.
Dentre as correlações de indicadores debatidas, existe um consenso que o Michigan Consumer Sentiment é capaz de antecipar o consumo de itens com tickets maiores (carros, imóveis, eletrodomésticos, etc).
-> Como estão as vendas de carros?
Quedas de 10%-15% nos EUA de março 2019 - março 2020. Outra área que emprega bastante gente é a produção industrial (manufacture). Portanto, também veremos uma certa pressão aí…agora, vamos as estimativas de PIB que saíram hoje:
Daily GDP Tracking Estimate do Goldman Sachs: (medição de expectativa do PIB diária do GS)
Bloomberg Economists GDP Forecast Survey: (Pesquisa com economistas da Bloomberg a respeito da próxima leitura de PIB - as leituras são trimestrais)
Pessimismo? Sim, estamos vendo estimativas em uma amplitude de -3% a -6% sendo tratadas como cenário base, porém, quem disse que o mundo é feito apenas de pessimistas em momentos como o atual? Coloco abaixo a estimativa do Morgan Stanley frente a recuperação do mercado de trabalho uma vez “resolvido” o coronavirus:
Veja que interessante, a equipe do MS acha que em 13 meses a queda de emprego se recupera frente ao que vimos em 2008. Se confirmado, estamos diante de uma oportunidade? (pergunta retórica)
-> Aproveitando o gancho sobre otimismo: Será que os varejistas online estão pressionados?
Acredito que uma parte dos resultados de consumo poderão surpreender positivamente (dentro de um contexto de expectativas extremamente, senão historicamente, pessimistas) devido ao trabalho dos varejistas online, a performance das ações “ganha” do S&P500 (ainda assim estão negativas no período recente).
Finalizando a parte 1 sobre os EUA, coloco aqui os dados mais recentes do Markit, empresa especializada em “hard data” (números).
Leitura de ontem do setor de serviços americano: “terrível”
Abaixo, leitura do Markit para o setor de Manufatura e New Orders (ordens que chegam para produção, um indicador que consideramos “‘líder”). Ainda estamos distante de 2008.
2) Economia da União Europeia: quem nos acompanha pela Liberta Global sabe que este tópico não é recente, já estamos alertando que a UE tem apresentado resultados fracos no campo econômico (e nas bolsas) há certo tempo. A “máquina industrial” alemã já estava em recessão tecnica desde o ano passado e a popularidade de Merkel em queda, perdendo inclusive importantes alianças políticas.
Para quem não acompanha não tem problema, resumo de forma simples nossa visão na Liberta Global: a UE trabalha diariamente para dificultar o ambiente dos empreendedores, fortalece a máquina burocrática em Bruxelas “sem muita dó frente a competitividade”, não deixa claro “até onde” cada país pode influenciar sua política fiscal e ainda “extrapola” os gastos da política de bem-estar social com frequência (e muita maldade política em época de eleição).
Portanto, estamos falando de um (mau) exemplo na prática de como o “garantismo estatal e leis trabalhistas” destroem um continente (parabéns aos ingleses, na minha opinião). Se somarmos os custos de uma pirâmide demográfica envelhecida, observamos estados inflados, bancos falidos com empréstimos de empresas “zumbi” em seus balanços e, taxas de juros negativas atrapalhando a classe média que se esforça para poupar…o alto nível de burocracia é a “cereja do bolo” de uma receita maligna. Acreditar no surgimento de empresas eficientes, pólos tecnologicos e domínio global em setores importantes na UE se tornou um sonho. A conta chegou.
-> Como está o consumo europeu?
-> Como está a manufatura e os New Orders na Alemanha?
-> E o setor de serviços?
Importante lembrar que a Alemanha passou o Japão em exportações há dois anos, e que o PIB da Alemanha é centrado na exportação de maquinário industrial, automóveis, etc. Diferente dos EUA (e do Brasil), o consumo não é o “carro-chefe”. Portanto, o desemprego está também claramente encaminhado na Europa.
Dansker Bank e Markit usam os dados industriais como proxy para desemprego (expectativas):
Farei mais dois artigos em conjunto, um será sobre o impacto nos emergentes e outro sobre a política monetária e os balanços dos BCs versus o mercado de crédito.
Recomendo para os interessados no assunto (e que assinam WSJ) o subscription para os emails diários do Lev Borodovski “The Daily Shot”, a maioria dos gráficos foram retirados por lá!
Espero que o artigo ajude na leitura do que está acontecendo no mundo, acredito que nos próximos meses acompanhar os dados econômicos será crucial para os investimentos. A maioria destes dados estão disponíveis gratuitamente no https://tradingeconomics.com/ e você pode montar sua watchlist!
Para os interessados em leituras a respeito do uso de indicadores econômicos, gosto muito do livro Ahead of The Curve do Prof. Ellis e do Beating the Business Cycle do Lakshman.
Bons trades pessoal!