UPDATE de mercado - versão Setembro 2020

Estamos inaugurando o primeiro relatório de update de mercado no mês de setembro, um mês importantíssimo no complicado ano de 2020. Neste relatório irei compartilhar os principais movimentos que me chamaram a atenção no mercado global.

Antes da narrativa, alguns dados que me chamaram a atenção:

- pior performance do MSCI Global, Nasdaq e do S&P500 desde março (mês da pandemia);

- pior performance do setor tech desde março;

- primeiro mês positivo do Dollar Index desde março;


Vamos a narrativa:

O movimento macro que mais me chamou a atenção no período foi a baixa variação dos juros longos americanos em um mês onde observamos as principais bolsas caírem enquanto o VIX, indicador de volatilidade, subiu para um patamar interessante de quase 37 pontos logo na primeira semana (antes das bolsas corrigirem).

O VIX, indicador de volatilidade do S&P500, historicamente navega entre as bandas de 12 e 18, e desde a pandemia - quando por um dia chegou a atingir sua segunda máxima recorde de 85.6, perdendo apenas para a crise de 2008 – o mesmo não voltou para baixo dos 20 pontos até agora. 


O que isso significa?

Na minha opinião, olhando apenas para o curto-prazo, existe uma percepção de incerteza no horizonte. Não precisa acompanhar muito o mercado para concluir isso, afinal, polarização política entre os candidatos e os partidos com menos de 60 dias para a eleição americana coloca o ano de 2021 e a necessidade dos indicadores econômicos americanos (e globais também) mostrarem uma recuperação que reviva a economia de volta ao mesmo ritmo de 2019. São diversos fatores por trás da eleição que trazem uma inquietação aos mercados, sendo o principal deles, na minha opinião, a possibilidade de um aumento de impostos impactarem severamente as expectativas de lucratividade das empresas nos resultados do ano que vem (dependendo do resultado da eleição).

Além disso, em um ano onde as bolsas chegaram a cair quase 40% e depois subirem 40%, os investidores que se beneficiaram da recuperação provavelmente já tiveram suficientes doses de adrenalina durante o ano, e, acredito que houve uma rodada do que chamamos aqui de profit taking, quando investidores institucionais movem seus portfólios reduzindo posições.

Entretanto, um dos grandes temas do ano, e o qual o mês de setembro parece me dar pistas que possivelmente seja algo verdadeiro, consiste no fato das taxas de juros longas já estarem em patamares baixos historicamente e de perderem seu poder de paridade nos portfólios. Como assim? O que isso significa?

Historicamente, quando entra qualquer pessimismo ou incerteza que seja capaz de derrubar as principais bolsas, o que chamamos de um movimento de risk-off, o principal movimento observado no mercado é a realização ou redução de posições em ativos voláteis e arriscados, como por exemplo bolsa, emergentes e bonds de High Yield. Entretanto, a taxa de juros de 10 anos americana e a taxa de juros de 30 anos americana mal se movimentaram durante as semanas de setembro onde o Nasdaq, por exemplo, chegou a atingir -15%. Seria essa uma mudança estrutural, onde uma das melhores ferramentas de hedge para portfólios foi perdida? Ou, seria um indício de apenas reduções de posições em bolsa, sem muito pessimismo, ou, até mesmo, sem o mercado ter a capacidade de indicar qualquer direção dado o tamanho da incerteza?

Acredito que se trata de um pouco de cada um, pelo menos até que tenhamos mais dados. Explico melhor, observe no relatório como a taxa de juros de 30 anos para hipotecas (Freddie Mac 30 year Mortgage Fixed Rate) desde o início do ano variou apenas 0.82%, indo para 2.9% no fechamento do mês. Agora, compare com, por exemplo, a taxa de juros de 10 anos do governo americano, que caiu 55.6% no ano (ou seja, de 1.6% para 0.68% no fechamento do mês). A taxa de 30 anos (que irei incluir nos próximos relatórios) terminou o mês em 1.45%. Trata-se de um gap histórico entre as taxas de juros longas e a vontade (ou melhor, a seletividade) dos bancos em fornecerem empréstimos para compradores de imóveis.

Em paralelo, observe como o OAS (Option Adjusted Spread - mais sobre spreads aqui) de diferentes tipos de bond (no relatório coloco os BBBs e os BBs, além dos High Yield Emergentes) têm uma grande distância entre sí. O que isso significa? A mesma coisa que o paragráfo acima, que quanto mais arriscado for o tomador de empréstimo, maiores são as taxas de juros. É mais um sinal que demonstra que por mais que os bancos centrais “coloquem as impressoras para trabalhar”, no final do dia, em um mercado eficiente como o americano (e não o europeu), a política monetária não consegue influenciar tão fortemente o mercado de crédito se a economia ainda não demonstra uma forte recuperação. Eu acredito que muitas teses de inflação concentram esta possibilidade teórica mas até agora não-prática, com isso, não acredito em “tanta inflação assim”, pelo menos até o momento atual (vejam o Year-to-Date do NY Fed UIG Inflation Gauge Model na Parte 3 do relatório, até agora o anualizado é de 1.3% apenas).


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gráfico retirado do site “NEW YORK FED”

Preços seguem em alta, mas inflação completa abaixo dos 2% do Fed.

Do lado positivo de crescimento, mesmo sem ainda o suposto estímulo fiscal do governo para incentivar o consumo, o Michigan Consumer confidence subiu 8.5% no mês de setembro, (ainda -13.7% versus setembro de 2019).  A volta da atividade dentro das cadeias de logística global também aparentou reduzir o preço de algumas commodities que estavam com falta de oferta (como madeira) e o reflexo dessa melhora acredito que pode ser observado pelas exportações da Coreia do Sul, que entregaram um mês de setembro 7.7% acima de setembro de 2019.

E agora?

Acredito que o pacote de estímulo fiscal, se aprovado antes da eleição, poderá representar um maior otimismo com consumo, o que por sua vez poderá trazer maior esperança com a recuperação econômica, entretanto, tudo isso fica “on-hold” até que a eleição de novembro confirme que alguns riscos na lucratividade das empresas sejam controlados.

Por último, eu tinha esperanças que a distância entre Growth e Value stocks (um dos indicadores exóticos que está na página 2 do relatório de Setembro) fosse diminuir com a queda da Nasdaq, mas, as Value stocks mergulharam junto e agora, já na primeira semana de outubro, observo uma nova disparidade histórica, junto com put-call ratios (na parte 2 do relatório de Setembro) em mínimas do ano, ao passo que o VIX segue acima dos 25.


RELATORIO 2.png

Russell 2000 Growth em azul, Russell 2000 Value em vermelho

Ou seja, ainda têm MUITA coisa para acontecer nos próximos meses, e, entramos agora no coração da temporada de resultados contábeis, onde focarei minha atenção no setor bancário (ETF XLF no relatório).



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