Meus Indicadores (Renda Fixa)
Acompanhar o mercado de crédito global não é tarefa fácil. Exige certa experiência com o linguajar e com a forma como os ativos funcionam. Com isso, neste artigo eu compartilho com o leitor alguns indicadores de renda fixa que selecionei para a área de Reports do site.
Cada indicador tem como objetivo investigar diferentes partes (“corners”) do maior mercado do mundo.
(Detalhe importante para quem acompanha o relatório de indicadores: quando você ler na tabela uma variação com o sinal negativo antes do número na frente, seja no yield (taxa de juros) do tesouro, ou em spreads ou mortgage, a cor que aparecerá será verde, pois quando o yield cai, significa que o valor de face subiu.)
1) BLOOMBERG BARCLAYS GLOBAL AGGREGATE CORP BONDS USD & BLOOMBERG BARCLAYS GLOBAL HIGH YIELD BONDS UNHEDGED: O Global AGG da Bloomberg é considerado um dos mais completos indicadores do bond market global, em dólar. O index é composto de ativos de 24 governos, entre eles tesouros, mortgages, bonds corporativos, além de bonds estaduais municipais. Uma das formas mais simples de se investir em uma proxy (apenas para ativos dos EUA e não global) do Index é através do ETF AGG (iShares Core US Aggregate Bond ETF), para investidores estrangeiros nos EUA, a versão do AGG UCITs também é possível, através do UCITs ETF AGGG. Já o Bloomberg Barclays Global HY unhedged é composto de um mix entre bonds High Yield americanos, europeus e de mercados emergentes.
2) BBB & CCC Adjusted Spreads: de forma simples, o spread de um bond em dólar consiste na distância entre o quanto este bond paga versus o quanto o tesouro americano paga, com vencimento igual. Para facilitar, o BofA ML fornece diariamente ao Fred de St. Louis o cálculo do spread ajustado para diversas notas de crédito. Separo duas notas que considero importantes para o acompanhamento macro. Primeiro os BBBs, ou seja, bonds considerados Investment Grade (grau de investimento), mas, que com qualquer turbulência podem sofrer downgrades e serem rebaixados para High Yield (especulativos). Além de ser atualmente a nota de crédito com maior concentração de bonds corporativos de empresas cíclicas.
Uma “abertura de spreads” nos BBBs (quando sobem, ou seja, o valor de face dos bonds caem) indica que possivelmente o mercado toma postura defensiva em relação as expectativas de lucratividade das empresas, ou, um possível medo de aumento de inflação persistente adiante.
Em segundo, os bonds CCC, os quais representam empresas próximas a falência, ou seja, quando o spread está “baixo” e as bolsas no topo, indica um mercado com estômago para tomada de risco, uma “abertura desses spreads” pode dar sinais iniciais de menor apetite para tomada de risco do mercado. Em momentos de subida de VIX é interessante acompanhar os spreads dos CCCs para detectar se quedas na bolsa começam a afetar o ambiente no mercado de renda fixa. Usualmente os High Yields acompanham muito mais a bolsa que as taxas de juros.
3) Freddie Mac 30 year mortgage fixed rate: Um dos pilares principais do mercado de renda fixa com duration mais longo, e uma das preocupações econômicas do Fed (e dos bancos) está na demanda por hipotécas. Através do site da Freddie Mac podemos acompanhar “qual é a taxa média de hipotéca sendo oferecida no mercado”. Trata-se então de uma forma interessante de se comparar com a taxa nominal de 30 anos para obtermos um termômetro de quanto os bancos estão pedindo de prêmio para emprestar dinheiro no longo prazo para home owners. Em segundo plano, é interessante comparar a influência dessas taxas com o nível de demanda por casas após 3-6 meses que a taxa varia nas bandas.
4) US Treasury 5Year Adjusted Forward Inflation Expected Rate: no site do FRED de St. Louis podemos observar o quanto o mercado de derivativos (de forma implícita) cobra de prêmio em contratos pós-fixados. É uma excelente maneira de observar se a percepção de aumento inflacionário futuro está movendo os juros futuros de 5 anos. De forma simples, se o mercado de derivativos não se move, então podemos assumir que ainda não existem evidências para uma pressão inflacionária de maior prazo rodeando o mercado de crédito.
5) US Treasury 10yrs Breakeven Rate: o breakeven rate consiste na diferença (ou spread) entre um bond do tesouro pré-fixado e um bond do tesouro e de mesma maturidade pós-fixado, em outras palavras, quanto o pós-fixado precisa pagar de prêmio para se igualar ao pré-fixado. Quando se move para cima, significa que ou o mercado acredita em menos inflação futura, ou, que as taxas reais de juros pré-fixadas futuras estão mais negativas por possíveis influências de política monetária.
6) US TED Spread: trata-se da diferença entre os contratos de 3 meses da LIBOR e os contratos de 3 meses do Overnight doméstico interbancário americano, uma das formas de se medir a necessidade de liquidez por dólar de instituições financeiras que negociam dólar e/ou possuem contratos/swaps/notas em dólar fora dos EUA, os chamados Eurodollars. Quando sobe significa que o mercado fora dos EUA está precisando de dólares.
7) Diferencial entre Tesouro americano de 10 anos – Tesouro alemão de 10 anos: em momentos de vol nos juros é sempre interessante comparar se surgem gaps entre os principais tesouros dos dois lados do Atlântico. Momentos onde o tesouro americano observa subidas de taxas e cria um distanciamento (gap) para o tesouro alemão podem ser interessantes para bancos centrais e bancos europeus de trocarem os tesouros europeus por americanos. Claro que toda a leitura depende da dinâmica sendo imposta por cada banco central de cada lado do Atlântico, além de situações econômicas de cada região. O indicador pode indicar oportunidades de compra ou venda de tesouro americano, além de ajudar a confirmar se momentos de subida de juros são regionais ou globais.