Update de Mercado - Versão Novembro 2020
O mês de novembro foi o retrato da somatória entre a “volta do otimismo com as projeções iniciais de 2021” e os esforços de política monetária abraçando o mercado financeiro global ao longo deste ano. Acreditamos que a distorção entre narrativa e realidade atinge níveis observados apenas em momentos que antecedem severas correções em ativos de risco, como a bolha da Nasdaq em 2000.
Se você está lendo pela primeira vez o meu resumo do mês, recomento o artigo “Manual: Como ler o relatório mensal de indicadores de mercado?”
Para baixar o Report é só clicar aqui.
Vamos ao resumo do mês:
Credit Markets (Mercado de Crédito)
1) Bloomberg Barclays Global High Yield Unhedged: a performance do indicador de bonds High Yield global reflete principalmente o movimento do dollar index violando um suporte (em paralelo a narrativa de crescimento global otimista em 2021). O movimento volta a colocar os ativos de crédito de empresas com balanços frágeis no positivo Year-to-Date. Foi um dos melhores meses da história para a classe de ativo, assim como outras classes de ativos frágeis e que se beneficiam da percepção de maior aceitação (ou apetite) por risco nos mercados, ou, em outras palavras, menos apreço pela qualidade dos investimentos e busca desenfreada por “yields”. Enquanto isso, a Moody’s acredita que a quantidade de defaults em HY irá atingir 10.3% no Q1 de 2021, atualmente em 8.3% (Q3 2020);
2) Wells Fargo Business Development Company Index: apresentou 11.6% de alta no mês, trata-se de um indicador que reflete a qualidade de crédito para empresas CCC+ americanas, ainda segue negativo no ano, mas, resume bem o apetite de risco selvagem do mês de novembro;
3) Taxa de Hipotéca do Freddie Mac de 30 anos fixa: novamente atingindo patamares históricos mínimos com a taxa fixa batendo nos 2.7% a.a. O fato é interessante, o Fed apresenta em dezembro no seu balanço pelo menos 610 bilhões de dólares investidos nos MBS (Mortgage-Backed Securities) nos últimos 12 meses, e, em janeiro do ano que vem, os forbearances permitidos a devedores serão retirados, possivelmente o momento para adquirir um mortgage a essas taxas seja único e oportuno para muitos americanos;
4) Spreads em bonds: mesmo com a taxa do tesouro estável no range atual (0.8%-0.92%) vemos os spreads reduzindo para todas as classes, indica que os bonds valem mais versus o tesouro (e que pagam menos juros aos atuais preços). O fato acompanha a opinião dos HY acima, mesmo sem alterações nos ranges do tesouro americano, os spreads diminuíram, indicando um mercado que busca desesperadamente taxas de juros. Quanto mais caem essas taxas, mais risco os compradores assumem na qualidade de crédito e nos durations dos seus portfólios. O spread nos ativos de crédito com maturidade entre 7 e 10 anos caiu de 2.2% para 1.9%, refletindo menos preocupações com inflação futura. O spread dos HY de Emerging Markets (EM) foram de 6.8% para 5.8% (1.3% acima do pré-pandemia “ainda”), e, o spread de EM Bonds Latam (Latin America) caíram de 4.6% para 3.8% (apenas 50bps acima do pré-pandemia “ainda”);
5) A conclusão do mercado de crédito é que infelizmente após o ano de 2020 voltamos a operar em um contexto onde os movimentos do mercado de Equity versus a percepção de risco dos investidores empurram tanto os ativos de alta qualidade quanto de baixa qualidade de crédito na mesma direção. O único ativo que aparenta caminhar na direção oposta é o Dollar Index, sendo portanto “o último dos moicanos” para os que buscam hedgear carteiras. Entretanto, se houver um breakout nos juros do tesouro de 30 anos a níveis próximos de 2% até o fim do primeiro trimestre de 2021, o mesmo fica interessante para voltar a ser utilizado como hedge;
6) Portanto, para monitorar posições em bonds basta monitorar as bolsas. Russel 2000 para HY americano, ETFs de Emerging Markets para HY Latam e S&P500 para Investment Grade bonds.
Equity Markets (Mercado de Renda Variável)
1) Bolsas americanas: todas tiveram performance estelar no mês, em linha com o apetite de risco comentados na seção acima do mercado de crédito. O índice Russell 2000 - que não está no report - apresentou 17.5% de alta no mês, estamos analisando a inclusão deste índice e do índice Dow Jones nas próximas edições. De forma resumida, o otimismo com as vacinas de Covid acendeu a ignição em um “trade de manada” comprador de papéis expostos a “economia real” e que estavam com lag para acompanhar as performances do S&P500 e do Nasdaq;
2) O crescimento de lucros do S&P 500 projetado para 2021 ainda está +6.6% desde a projeção inicial de 1/1/2020, entretanto, no mês de julho, chegou a valer +15.4%, ou seja, o mercado ainda precifica 2021 com viés otimista, mas já se percebe uma queda no viés (e que não aparenta chamar a atenção da mídia no momento);
3) Setoriais e Geográficos: O mês teve performance estelar para industriais, energia, emergentes e Europa. ETF XLI (Industrials, S&P) +16%, ETF XLE (Energy, S&P) +28%, REITs também tiveram um bom mês com ETF VNQ (US REITs) +11%. MSCI Europe +17.2%, uma das melhores performances mensais da história, MSCI Emerging Markets +9.3% no mês. O movimento acompanhou a queda no Dollar Index e a alta de commodities;
4) VIX: Inauguramos a entrada do VIX do fim do 1º tri de 2021 no reporte, entre outubro e novembro o futuro do VIX de Março de 2021 caiu para 25.07, vindo de 29.3 no fechamento de outubro, indicando menos pressão de volatilidade futura no momento de otimismo, ou, indicando um momento interessante de montagem de puts para 2021.
Economic & Commodities
1) Cesta de Commodities: O CRB Index (índice de cesta de commodities global calculada pelo Commodity Research Bureau) apresentou 11% de alta no mês, ainda -13.5% no ano e ainda -10.8% versus o fechamento de novembro de 2019;
2) Petróleo: Os contratos de petróleo NYMEX (Light Crude) front month apresentaram 29% de alta no mês. Um reflexo da queda do dólar index e do otimismo com o crescimento global causado pelo anúncio das primeiras vacinas de tratamento do Covid. Mesmo assim, ainda o barril ainda apresenta -26.4% versus o dia 1/1/2020;
3) PIB Americano: O modelo do Atlanta Fed GDP para o fechamento do 4º trimestre apresentou uma melhora expressiva entre o mês de outubro e de novembro, indo de +2.2% esperado para o período para +11%. A maior contribuição de acordo com as estatísticas do modelo vieram de construção civil e produção industrial, e não do consumo, a principal variável de acordo com o modelo apresentado pelo Fed de Atlanta;
4) Acesso a Crédito: O Chicago Fed National Financial Conditions Index voltou a -0.6, indicando menor restrição em obtenção de crédito bancário, ainda abaixo dos -0.65 do dia 1/1/2020, mas já superior aos -0.47 do fechamento de outubro;
5) O crescimento de salários por hora ainda segue positivo versus o ano passado, entretanto, o aumento de apenas 0.3% no mensal de novembro reduziu em 0.1% (para 4.4%) no resultado acumulado dos últimos 12 meses;
6) A pesquisa mensal no setor de produção/industrial feita pelo Fed de Philly (Diffusion Index) indica queda de 6% no ambiente, com queda em shipments e em ordens liderando a redução do otimismo, aumento de preços também atrapalharam a leitura;
7) A queda em Retail Sales de 1.1% nos surpreendeu vs a performance do mercado em geral, no acumulado de 12 meses temos agora +4.1% versus +5.7% do fechamento de outubro, uma manutenção dessa tendência colocará pressão nas expectativas de lucro do S&P500 e recuperação econômica do modelo do Fed de Atlanta;
8) Modelo de inflação do Fed de NY aponta 0% de variação entre outubro e novembro, comparando o ritmo de novembro 2020 (+1.2%) vs novembro de 2019 (+2.1%) percebemos uma queda no ritmo de inflação esperada futura em 0.9%;
9) O National Association of Home Builders Index (NAHB) já de dezembro, apresenta queda de 4% versus novembro, indicando que possivelmente novembro tenha sido o topo histórico do indicador;
10) O indicador de confiança do consumidor de Michigan apresentou uma melhora de 4.5% no mês acompanhando de uma menor preocupação com crescimento de inflação por parte do consumidor;
11) Dentre os indicadores internacionais que selecionamos, o preço de imóveis em yuan na China apresentam 13% de crescimento no mês, indo completamente em via oposta aos defaults de mega-construtoras no bond market, e, reforçandoa tese de excesso de crédito em circulação na economia criando preços artificiais no mercado imobiliário.
Algumas mudanças que fizemos no report:
1) S&P Revenue (Quarterly): incluímos o resultado do Q3 (-0.9%), e comparamos com a expectativa inicial do consenso dos analistas de 1/1/2020 (que era de +5.9%)
2) S&P500 Earnings Growth (Quarterly): mesma dinâmica. Resultado do Q3 (-6.1%) versus expectativas em 1/1/2020 (+10.1%)
3) Alteramos o Full Year Expected Earnings para S&P500 2020 EPS Growth Expected. O resultado é de -15.2% para o fechamento do terceiro tri, -24.9% comparado com as expectativas de 1/1/2020
4) Corrigimos o Put-Call Ratio para o Nasdaq, estávamos utilizando o do S&P500, fechou o mês em 0.61, 0.18 pontos acima do início de janeiro
5) Trocamos o Growth/Value Ratio pela variação futura dos contratos de Vix com 90 dias para expirar no ano que vem
Side note: o valor de issuance de bonds IG Year Over Year reduziu entre os relatórios mensais não porque houve queda no issuance e sim porque é comparado aos últimos 12 meses.